quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Série coisas do dia a dia n°4

O elevador.
(Papo de conhecido no elevador do trabalho)

- Oi tudo bem
- Tudo bem
- Ta frio né
- Ta
- Então
- É...
- Falou
- Falo

...

“Uma revolução não se faz só com literatura, ela se faz com pessoas. E ninguém ira lutar ao lado de quem não goste, ame ou confie!”

Serie coisas do dia a dia n°3.1

A cápsula e a chave
Vindo de uma conversa não muito agradável, com resquícios de magoa acumulada, com a alma ofegante, perturbado em meio a pensamentos melancólicos, o primeiro ônibus foi perfeito, sem nenhum conhecido, afinal antes só do que mal acompanhado. Mas já chegará ao metro a esperança era maior, a probabilidade de ser afrontado era muito pequena. É verdade que está vontade louca de não encontrar ninguém não era privilégio deste dia fatídico, afinal está cápsula medíocre que aprendera a ser desde sua infância lhe soava natural e sem problemas, em um dia feliz encontrar alguém já seria um pesar, entretanto em um dia como esse que a sensação era que o ar parecia estar carregado de cimento, que ao inalar lhe corroia das narinas até os pulmões, representaria quase que a morte encontrar uma alma conhecida neste momento.
O metro chegou ao seu destino, e quase havia completado a terrível saga de chegar a sua casa, faltava pouco, só mais um ônibus e estaria no conforto de seu lar, é verdade que não se tratava de um lar de novela, daqueles que fazem pobre sonhar que morar em barraco seja algo digno, mas também não era um lar, daqueles que a morte apresenta-se como a melhor opção de descanso.
Sem saber como rezar rezava para não se deparar com os seus algozes, não seria justo, mas não é uma questão apenas de justiça é um caso de vida ou morte, há muito a vida já lhe havia ensinado que para sobreviver só precisava de si próprio. Sua filosofia se resumia em uma pequena frase: EU + EU ME BASTO!!!. Até aquele momento a leitura estava sendo sua melhor companhia, viajava nas realidades fantasiosas dos contos e dos poemas que lia e que lhe tocava de uma maneira tão real, que a mesma revolta que sentirá ao passar por um morador de rua, naquela noite fria e chuvosa da cidade mais rica do país, sentirá também a cada palavra, frase e parágrafos, daqueles contos e poemas que lhe penetravam o espírito.
Abruptamente interrompe sua orgia literária, é chegada à estação de destino, tinha apenas naquele momento três esperanças que ressoavam um pouco estranhas, a primeira era que não encontrasse nenhum algoz, a segunda era que não tivesse uma fila quilométrica para pegar o ônibus e a terceira era que se que houvesse a fila que tanto temia que encontrasse alguém bem no meio, pois assim de fato cortaria fila (que em sua cabeça se justificava, porque deveria é ter ônibus suficiente para que todos pudessem ir sentados), e se livraria de ir sentado ao lado da pessoa que lhe concedesse assentar-se ao lado dela na fila e a aturaria apenas ali.
O que mais temia aconteceu à fila estava pequena, sinal que demoraria e justamente no final o que mais temia estava – lá, um conhecido. É verdade que verá na fila uma antiga conhecida dos tempos de colégio, mas está nem contava apenas um balançar de cabeça, caso ela lhe percebesse na fila, já resolveria o incomodo de encontrá-la. Sua mente começou a operar maneiras de driblar aquela situação, não se entregaria tão fácil e não iria se dar por vencido. Parte de seu problema estava no ser letal que teria que se postar atrás dele, sinal que pelas circunstâncias o papo seria longo, buscou a hipocrisia que aprendera desde criança nesta sociedade modelo, e a pôs em prática, troca de palavras secas porem que se apresentavam educadas, o conhecido estava sofrendo do mesmo modo com aquela situação, mas logo surgiu ao conhecido a brilhante idéia de pegar um outro ônibus e acabar com o martírio dos dois. Um sentimento longínquo de tristeza visitou nossa cápsula ao ser informada que o estorvo lhe deixaria em paz, para que pudesse voltar a sua orgia. Este sentimento inesperado não teve força para se sobrepor a grande felicidade de voltar a capsular solidão que desfrutava apaixonadamente. UFAH... soltou aliviado.
De repente algo aconteceu, a conhecida de escola que mal havia lhe cumprimentado com um balançar de cabeça, agora estava ali na sua frente, as pessoas foram saindo da fila e cometeram uma enorme heresia. De inicio nem se preocupou, não era preciso já havia lhe encontrado algumas vezes e o máximo de comunicação que haviam tido era um ensaio de balançar cabeças.
Tinha algo que lhe incomodava e não percebia, voltou para a leitura, que estava obstinado a terminar, lia profundamente com a alma aqueles versos profanos, contra a recalcada sociedade burguesa! Cada estrofe devorava com uma fome insaciável, acreditava estar em comunhão com a prole, sendo ele e ela um só, como na santíssima trindade. Algo lhe incomodava, cutucava-lhe o espírito, atrapalhava aquele momento santificado de comunhão, com a “alma universal da rapaziada trabalhadora”, espalhada mundo a fora.
Terminou um trecho da leitura, mas não conseguia se lambuzar com o próximo, como uma cacetada na fronte aquele sentimento desconfortável, lhe atormentava cada vez mais, estava inquieto e impaciente, o mesmo livro que o tinha feito transcender agora o distanciava do sentimento vivo, que o tinha o dominado. A amargura infectava-lhe aos poucos, quando olhou repentinamente, para aquela que até naquele momento não passava de mais uma cápsula solitária, que era forçado a aturar na fila. :
Como assim? Ela? Logo ela? Não pode ser! Não é possível! Tudo que eu preciso esta em minhas mãos, os versos e os contos que me ungem com o espírito mais que santo, proletário. Como assim, uma reles conhecida do tempo de colégio pode conter o que preciso neste momento? É possível que nela se encontre o que meu espírito tanto procura e necessita neste momento?
Olha para o livro que está em sua mão, fica mais atordoado, o livro está extremamente pesado, ele já começa a desconfiar o que está a acontecer.
Não! Não pode ser! Não é possível! Não acredito nisso!
O coração dispara, a mente opera neste momento na velocidade da luz ao quadrado. Um turbilhão de pensamentos vem e vão;
Como assim? Ela? Logo ela? Não pode ser! Não é possível! Não acredito nisso! Tudo eu preciso esta em minhas mãos, os versos e os contos que me ungem com o espírito mais que santo.
A mente começa a procurar, saídas;
Porra! Ela nunca vai me dar assunto, e se der será um assunto que em nada contribuirá, com a comunhão que se apoderou de mim, ao me relacionar com os santos versos que de mim se apoderaram.
Perturbado profundamente entregue aquele devaneio anti-capsular e revolucionário que ensaia romper o pós-moderno - individualismo - capsular, no qual somos todos gerados. Timidamente solta um oi, e recebe um oi meio sem graça, é verdade, e logo tenta se convencer que o melhor a fazer é voltar à orgia literal, mas a perturbação foi mais forte, e sua mente começou a operar uma forma de aproximação, foi quando meio que sem perceber conseguiu achar a chave que abria naquele momento, tanto a sua cápsula quanto a dela.
- “Você tem falado com alguém dos tempos de colégio”?
Naquele instante, um re-significou o outro, passaram a ter rostos, alma e nome! Rogéria era seu nome recordava, mas pensando bem, percebe que nunca havia esquecido o nome de sua colega. Que responde o que ele lhe perguntou com certo ar, de não entendi o porquê falou comigo?
A moça saiu cedo da faculdade e estava com pressa de chegar o mais cedo possível em casa. Ficou feliz pelo antigo colega proferir algumas palavras, pois certamente ele não era o único que ela encontrará naquele ponto, já que fazia o mesmo percurso há pelo menos seis meses. Rogéria também percebeu não esquecerá o nome de Augusto, sem fazer muito esforço, se deu conta que apesar dos anos, o nome do antigo colega de colégio estava vivo em sua memória. O ônibus chegou, Rogéria sorriu como se estivesse escapando de uma ameaça muito grande. Augusto percebeu o sorriso de sua colega, e se preparou para voltar a sua cápsula, por achar que o sorriso que presenciara era de uma cápsula voltando ao seu sistema de defesa.
Rogéria sobe primeiro no ônibus e Augusto fica apreensivo, pensava logo; devo me sentar ao lado dela? Não serei inconveniente? Mas percebe rapidamente que de fato seria inconveniente, não por se sentar ao dela, mas justamente se fizesse o contrário. Então sem pestanejar, passa a catraca e sentasse ao lado de sua colega convicto que tomara a melhor decisão. A conversa começara tímida, mecânica, sem vida, mas aos poucos os dois foram ensaiando uma conversa verdadeira. Com os passar do tempo, pareciam dois velhos amigos inseparáveis, que brotava assunto não sabiam de onde. Augusto percebeu que o ar tornou-se leve com o decorrer da conversa, que o espírito que o havia dominado ao se entregar a orgia literária, estava novamente presente nele, com mais força, mais vigor e mais revolta.
É chegado o ponto, ele se despede com um sorriso no rosto que talvez Rogéria nem entendesse o porquê daquele sorriso, não era um sorriso de quem acabara de encontrar uma grande paixão. Mas era um sorriso jovial, um sorriso ofuscante, um sorriso divinamente humano, um sorriso transcendental. Ao se achegar à cápsula de sua colega, não só rompeu a tola solidão burguesa, mas percebeu que nas próximas conversas de ônibus, que eventualmente ocorrerão, poderá se aproximar de sua colega cada vez mais, promovendo uma metamorfose no grau da relação. De conhecida, a colega; de colega a amiga; de amiga a companheira de classe!

Serie coisas do dia a dia n°2

O elevador. parte 1

Lílian mora no décimo andar e como a maioria dos moradores de apartamentos pouco fala com seus vizinhos. O diálogo com os vizinhos se resume apenas no dificílimo e no complicadíssimo “OI”. Para ela tem dias que encontrar com alguém no elevador é torturante, principalmente quando o vizinho quer ser simpático e da uma de meteorologista:
Vizinho: - Oi tudo bem?
Lílian: - tudo!
Vizinho: - É hoje parece que vai chover
Lílian em pensamento se pergunta: E eu la... perguntei a ele alguma coisa! Mas tenho que ser gentil.
Lílian: - É realmente!
Vizinho: - Pois é né ultimamente anda chovendo bastante.
Lílian: - hum, hum.
Vizinho: - Tchau
Lílian: - TCHAU!!! em pensamento: UFA ATÉ QUE FIM.

Serie coisas do dia a dia n°1

O telefone e a pulga

Luciane está na casa do seu namorado, mais precisamente namorando no sofá da sala.Quando o telefone toca (trim, trim, trim.) e ele atende.
Namorado: - Alo!
Namorado:: - Oi tudo bem?
Namorado: - Quanto tempo hein?
Luciane pensa consigo mesma: - ...Quem será?
Namorado: - Comigo está tudo bem, tranqüilo, há, há, há.
Namorado: - Como estão as coisas?
Depois de cinco minutos de conversa, Luciane começa a se incomodar e os pensamentos vão mais longe, a cada frase ouvida, ela tenta com sua mente contextualizar o que ouve.
Namorado: - Vamos sim, ta combinado.
Luciane: -...Bobagem minha deve ser um dos amigos dele.
Namorado: - Ta tudo tranqüilo.
Namorado: há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há.
Luciane: - ...Deve ser o João, ou o Henrique! Sei lá! Deixa pra lá!
Namorado: Sei sim...
Namorado: - Não, não da para falar agora!!!
Luciane que já estava se roendo de curiosidade, seu ID estava latente querendo saber o que está acontecendo e seu Superego reprimindo-a, dando a seguinte ordem: LARGA DE SER CURIOSA! Não consegue mais conter seus pensamentos e começa a formular grande teses a cada frase ouvida.
Namorado: Porque não! há, há há...
Luciane: - ...Será que não da para ele falar porque estou aqui?
Luciane: - ...Ele podia se tocar que estou aqui e desligar, me livrava deste tormento.
Luciane: - ... Não isto já é demais da minha parte, estou querendo o que? Controlar as ligações, besteira minha.
Namorado: há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há.
Luciane: -...Qual é a piada que quero rir também!
Namorado: há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há.
Luciane a cada gargalhada de seu namorado fica mais irritada, e cheia de curiosidade, querendo saber quem está do outro lado da linha.
Namorado: Sei!... há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há.
Namorado: - Você sabe por que não da para falar agora?
Luciane: - ...Besteira minha nada, se não da para falar porque eu estou aqui, é só pedi que saio, o que não da é para ele ficar ai no telefone falando deixando claro que não quer eu saiba qual é o assunto.
Luciane: - ...Ainda fala com a maior naturalidade: “QUE NÃO DA PARA FALAR AGORA”, só faltou falar que era porque eu estou aqui.
Namorado: - Não, não, não. Amanhã eu te falo.
Luciane: - ...Amanhã eu não to aqui né! Sem vergonha, ta muito estranho este papo.
Namorado: - Porque não da...
Namorado: - Você sabe né, há, há, há...
Luciane: - Ta dando a dica para anta que está do outro lado, que estou aqui e a anta não se manca.
Namorado: - Não da para falar agora.
Namorado: - Porque não! pensa! Você sabe porque!
Luciane: - ...Quer que eu fale que estou aqui, eu falo, me da o telefone. Já que esta anta que você está falando não percebe as indiretas que você deu para ela.
Namorado: - Para! Não é isso.
Namorado: há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há, há.
Namorado: - Amanhã eu te falo. Hoje não da.
Luciane que já não agüenta mais de tanta curiosidade ( tendo seu ID como vencedor da batalha que travou com o Superego), levanta-se do sofá e começa a andar irritada pela casa, para demonstrar seu descontentamento.
Namorado: - Deixa para amanhã hoje não da.
Luciane vai até a cozinha, vai até o banheiro tentando não ouvir o que está sendo falado pelo namorado, tendo já plena certeza de que ela é o empecilho para o desenrolar da conversa. Não agüenta de tanta curiosidade e volta para seu posto no sofá, não menos imaginativa.
Namorado: - A gente conversa amanhã, é melhor.
Luciane: - Quando ele desligar vai ter que me dar explicações, que história é está, acha que sou boba.
Namorado: - Hoje realmente não da, amanhã conversamos.
Namorado: - Beijos, tchau, até amanhã.
Luciane: - ...Quem será? Não, para com isso Luciane, deixe de ser curiosa, não tem com o que se preocupar.
O namorado de Luciane desliga o telefone e se volta para ela e diz:
Namorado: - Ta tudo bem querida?
Luciane respira fundo(seu Superego ressuscita como uma fênix e coloca o ID em seu lugar), Luciane responde:
Luciane: - Esta tudo bem, amorzinho...
Será? Fica-nos a pergunta!