quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Mano na porta do bar

Você viu aquele mano na porta do bar
Jogando um bilhar descontraído e pá
Cercado de uma pá de camaradas
Da área uma das pessoas mais consideradas
Ele não deixa brecha, não fode ninguém
Adianta vários lados sem olhar quem
Tem poucos bens, mais que nada
Um fusca 73 e uma mina apaixonada
Ele é feliz e tem o que sempre quis
Uma vida humilde porém sossegada
Um bom filho, um bom irmão
Um cidadão comum com um pouco de ambição
Tem seus defeitos, mas sabe relacionar
Você viu aquele mano na porta do bar
(aquele mano)
Você viu aquele mano na porta do bar
Ultimamente andei ouvindo ele reclamar
Da sua falta de dinheiro era problema
Que a sua vida pacata já não vale a pena
Queria ter um carro confortável
Queria ser um cara mais notado
Tudo bem até aí nada posso dizer
Um cara de destaque também quero ser
Ele disse que a amizade é pouca
Disse mais, que seu amigo é dinheiro no bolso
Particularmente para mim não tem problema nenhum
Por mim cada um, cada um
A lei da selva consumir é necessário
Compre mais, compre mais
Supere o seu adversário,
O seu status depende da tragédia de alguém
É isso, capitalismo selvagem
Ele quer ter mais dinheiro, o quanto puder
Qual que é desse mano ?
Sei lá qual que é
Sou Mano Brown, a testemunha ocular
Você viu aquele mano na porta do bar
(Aquele mano)
- " Quem é aqueles mano que tava andando com você ontem a noite ? "
- " É uns mano diferente aí que tá rolando de outra quebrada aí, mas é
o seguinte, eu tô agarrando os mano de qualquer jeito, certo ? "
- " Nós somo aqui da área mano !? "
- " Não tem nada a ver com você !!! "
- " Já era meu irmão ! já era !!! "
- " Qual que é ? Num tô te entendendo, explica isso aí direito... "
- " Movimento é dinheiro meu irmão... "
- " Você nunca me deu nada !!! "
Você viu aquele mano na porta do bar
Ele mudou demais de uns tempos para cá
Cercado de uma pá de tipo estranho
Que promete pra ele o mundo dos sonhos
Ele está diferente não é mais como antes
Agora anda armado a todo instante
Não precisa mais dos aliados
Negociantes influentes estão ao seu lado
Sua mina apaixonada, amiga e solitária
Perdeu a posição agora ele tem várias...
Várias mulheres, vários clientes, vários artigos,
Vários dólares e vários inimigos
No mercado da droga o mais falado, o mais foda
Em menos de um ano subiu de cotação
Ascenção meteórica, contagem numérica
Farinha impura, o ponto que mais fatura
Um traficante de estilo, bem peculiar
Você viu aquele mano na porta do bar
(Aquele mano)
Ele matou um feinho a sangue frio
As sete horas da noite,
Uma pá de gente viu e ouviu, a distância
Dia de cobrança, a casa estava cheia
Mãe, mulher e criança
Quando gritaram o seu nome no portão
Não tinha grana pra pagar perdão é coisa rara
Tomou dois tiros no meio da cara
A lei da selva é assim: Predatória
Click, cleck, BUM, preserve a sua glória
Transformação radical, estilo de vida
Ontem sossegado e tal
Hoje um homicída
Ele diz que se garante e não tá nem aí
Usou e viciou a molecada daqui
Eles estão na dependência doentia
Não dormem a noite, roubam a noite
Pra cheirar de dia
O total dominio dos negócios, muita perícia
Ele da baixa, ele ameaça, truta da polícia
Não tem pra ninguém
No momento é o que há
(E ai mano, vai apetece daquilo no no bar)
Você viu aquele mano na porta do bar
(Aquele mano)
(Pilantra e tal... Pode acreditar...)
" - E aí mano, e aquela fita de ontem a noite ? "
" - Foi um mano e tal que me devia, mó pilantra safado, queria me dá
perdido... - Negócio é negócio, deve pra mim é a mesma coisa que
dever pro capeta, dei dois tiro na cara dele, já era... virou os olhos. "
" - Mas e agora, como é que fica !? "
" - Ih...Sai fora !!! Sai, Sai !!!
Você tá vendo o movimento na porta do bar
Tem muita gente indo pra lá, o que será ?
Daqui apenas posso ver uma fita amarela
Luzes vermelhas e azuis piscando em volta dela
Informações desencontradas gente indo e vindo
Não tô entendedo nada, vários rostos sorrindo
Ouço um moleque dizer, mais um cuzão da lista
Dois fulanos numa moto, única pista
Eu vejo manchas no chão, eu vejo um homem ali
É natural pra mim infelizmente
A lei da selva é traiçoeira, surpresa
Hoje você é o predador, amanhã é a presa
Já posso imaginar, vou confirmar
Me aproximei da multidão, obtive a resposta
Você viu aquele mano na porta do bar
Ontem a casa caiu com uma rajada nas costas...
(Pilantra e tal... huhohohoa..)

Racionais MCs

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Quando os trabalhadores perderem a paciência

As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dandy

Mamãe quando eu crescer
eu quero ser artista
sucesso, grana e fama são o meu tesão
Entre os bárbaros da feira
Ser um réles conformista
nenhum supermercado satisfaz meu coração

Mamãe quando eu crescer
eu quero ser rebelde
se conseguir licença
do meu broto e do patrão
Um Gandhi Dandy, um grande
milionário socialista
de carrão chegou mais rápido à revolução

Ahhhh! Quanto rock dando toque tanto Blues
e eu de óculos escuros vendo a vida e mundo azul

Mamãe quando eu crescer
eu quero ser adolescente
No planeta juventude
haverá vida inteligente?
Plantar livro, escrever árvores,
criar um filho feliz,
Um porquinho pra fazer de novo tudo o que eu já fiz

Ahhhh! Quanto rock dando toque tanto Blues
e eu de óculos escuros vendo a vida e mundo azul

Belchior

O polvo

Ai… um polvo!

Tentáculos na sala de estar.
Nada mais incômodo que
tentáculos pegajosos.
Este pedaço de vida
que voa pela janela
não é aquele onde eu dizia:
“Eu já resolvi isto”?


Jurei ser diferente.
Papai casou com mamãe,
perante a Igreja e a Lei.
Juraram ser felizes:
mentiram!
Nem Deus, nem os juízes
parecem se preocupar.


Eu não…
Reneguei altares,
cuspi nos papéis amarelados
dos livros de registros civil.
Comigo não…


Apaixonei-me
por olhos meigos,
por uma boca pequena
que guardava palavras doces
e beijos serenos.


Dormimos juntos
moramos juntos
juntos vivemos
comemos
saímos
amamos.


O dia
o café
o almoço
a escova de dentes
os hábitos
o hálito
os sábados
os mitos
os fatos
os filhos.
O ato falho
as falas
as facas
as falas feito facas
as feridas


Meus filhos me olham
como a dizer:
“Papai casou-se com mamãe.
nada jurou a ninguém,
nem a Deus, nem a Lei.
Não registrou seu casamento burguês
por isso pensa que sua infelicidade
é diferente”.


Tem um polvo na sala de estar!
Nada mais grudento que um polvo.
Seus tentáculos enormes e infinitos
crescem a cada dia.
Logo eu que detesto polvos.
Como, por diabos, apareceu este por aqui?
Como teria crescido tanto?
Isto eu penso
enquanto, calmamente,
alimento o polvo
como faço todos os dias.

Mauro Iasis.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

¿y si Dios fuera una mujer?

¿y si Dios fuera una mujer?
-Juan Gelman

¿Y si Dios fuera mujer?
pregunta Juan sin inmutarse,
vaya, vaya si Dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas.

Tal vez nos acercáramos a su divina desnudez
para besar sus pies no de bronce,
su pubis no de piedra,
sus pechos no de mármol,
sus labios no de yeso.

Si Dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos SIDA o pánico
nos contagiaría su inmortalidad.

Si Dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos,
sino que nos aguardaría en el zaguán del infierno,
con sus brazos no cerrados,
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles.

Ay Dios mío, Dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería,
qué venturosa, espléndida, imposible,
prodigiosa blasfemia.

Mario Benedetti

O Mendigo e o Mundo

O que seria de mim se eu fosse rico, eu me pergunto
Iate, mulheres lindas, o mundo
Eu já teria conhecido de trás pra frente
Famoso, feliz, irreverente
É porque às vezes eu vejo o chiquinho scarpa
O silvio santos, o gugu, uma pá de cara
Fico calado, somente imaginando
O mundo é redondo e quanta gente tá me olhando
Ao mesmo tempo como eu olho pra tv
Procuro explicação, hãhã, não consigo entender
Parece até que eu to ofendendo quem me olha
A minha roupa é suja, a madame me ignora
Hã, passa por mim como se eu não fosse nada
Como se eu fosse uma lata caída na calçada,
Pois é, veja bem a lata tem valor pelo menos
Pro mendigo aqui é só desprezo, só fim de feira
Fruta podre do ceasa meu deus!
Banho, o chafariz da praça, eu não tenho nada
Não sou ninguém, sou apenas mais um no mundão
Com família, porém, nordestino
A mais de dez anos em são paulo
Clandestino do sistema hoje eu sou o alvo
De uma pá de injustiça da sociedade
Quantas vezes na cadeia, preso por vadiagem
Sem trabalho o homem é sem valor
Mesmo sem valor no peito só a dor
Minha fé no senhor nunca acaba nem se abala
Sente pena, ou da risada, humilham meus filhos com palavras
É triste conviver com a mágoa
A minha casa é o chão gelado da calçada
Que você cospe quando passa

Bola, no fim da bola onde tudo é escuro demais
Escuro demais...

Se eu morasse na favela ou num barraco enfim
Talvez eu fosse mais feliz
Talvez os meus filhos fizessem castelos de areia
Teriam amizades e não doenças
Talvez não apanhassem da polícia
Porque criança na verdade é sem malícia
Tem gente que pergunta pra mim como eu vivo
Como eu sobrevivo na rua com mulher e filhos
Pedindo esmola, trabalho, ajuda
Catando ferro velho e papelão pela rua
É triste senhor, a alma e o coração tremem
Ver seu filho chorando por falta de leite
Reclamando de frio em dia chuvoso
Abala o meu sistema nervoso
A mãe severina escuto sua fala, abençoe o meu caminho
Abençoe a minha estrada, me proteja do mal
Que o diabo quer pra mim, apareça enfim
Como um anjo querubim, e me guia
Mesmo se for pela miséria
Faz meu coração ser amor nesse chão de terra
Lá no lixão onde o brasil é de verdade
Onde o ratinho outro dia fez reportagem
Usou a minha imagem pra ganhar ibope
Pra se passar como santo pra milhões de pobres
Taí mendigo famoso aquele dia, é,
Pra você ver, mano eu dei até entrevista
Vou te falar um negócio, mais não se assusta
Ta de pé, senta na cadeira e se segura
A minha vida é pior que o cemitério
Pelo menos lá tem flor, pra mim só sobrou o resto
Do resto, que a sociedade sente nojo
A água que escorre do esgoto, mais,
A fé no senhor nunca se abala
É triste conviver com a mágoa
A minha casa é o chão gelado da calçada
Que você cospe quando passa



Televisão, tv, é pra você ver, eu falei no começo
O que eu vi na tv, chega até ser engraçado,
Mendigo sem nada, sem lar, sem barraco,
Sem porra nenhuma, só o céu e a chuva
As estrelas e a lua, no peito a angústia
O presidente prometeu pro nordeste
Acabar com a sede, matar com a febre,
De quem sentia fome, de quem não tinha água
Faz tempo, a promessa virou mágoa,
Meu padre císsero me guie pelo certo, me mostre uma luz,
Não deixe o demônio de terno me atentar
Mesmo na fraqueza, ou na escuridão da minha mente
Com certeza, eu acredito tenho fé não desisto
Se for pra ser esse o meu destino eu vou até o final
Entre espinhos e arames, a minha fé faz de mim
Irmão, um gigante, você que passa por mim e sente medo
Você que sente dó e até receio
Percebe como eu que os olhos da humanidade
Na verdade são espelhos da mediocridade
Ce deve ate ta achando estranho, é que a dureza da vida
Me ensinou, enquanto você dormia ou até mesmo estudava
Enquanto meus filhos, minha família sonhavam
Com um barraco de madeira ou de papelão
Que eu mendigo, jamais se tornasse ladrão
Seriam felizes demais num pedaço de terra
Lá no nordeste ou aqui na favela
Mais não, enquanto você faz a faculdade
Gasta dinheiro pra manter a vaidade
Hã, ou patrocina esse sistema covarde
Os meus filhos passam dificuldade
A lágrima que escorre agora, é de um sobrevivente com fé
Ó meu deus, minha nossa senhora,
Me dê forças pra continuar de pé
Sente pena, da risada, humilham meus filhos com palavras
É triste conviver com a mágoa, mais minha fé no senhor
Nunca se abala, minha casa é o chão gelado da calçada
Que você cospe quando passa

Face Cruel

Brasília Periferia - Parte II

AI
JÁ CURTI NO QUARENTÃO NO CIT NO PANDIÁ
BOATE AMIGOS VAGALUME CANECÃO OH LUGAR
NOSTALGIA CAMARGO RAVANI
SALÕES LOTADOS
É BOM CONSIDERAR E SER CONSIDERADO
EU PROMETI O SOM TA AI QUATRO ANOS DEPOIS
BRASÍLIA PERIFERIA PARTE DOIS
RAP NACIONAL É COISA SÉRIA
E A PERIFERIA DE BRASÍLIA GANHOU IDÉIA
IDENTIDADE
COM GENTE HUMILDE
ONDE O CARDÁPIO NÃO VARIA DO FEIJÃO COM ARROZ
RIACHO FUNDO E SOBRADINHO SÃO AGORA UM E DOIS
DEU NO JORNAL NACIONAL
QUEBRA QUEBRA NA ESTRUTURAL
AÇÃO POLICIAL SEM VASELINA SEM CREME HAM
E SÓ DE VER DE LONGE A FARDA DE UM PM
A CRIANÇA DE COLO NÃO SE CONTROLA TREME
TAMBÉM OS CARAS NÃO SÃO NADA INGÊNUOS
CACETES CÃES BOMBAS DE GÁS LACRIMOGÊNEO
NESSES MOMENTOS
POR MAIS QUE EU ME ESFORCE EU NÃO CONSIGO VER
DIFERENÇA DOS GOVERNOS DO PASSADO QUE TA AI ONTEM
CADÁVERES, FORMOL HOJE
MEU SONHO UM SORVETE CARREGADO EM PLENO SOL
MAS NEM TUDO É NEGATIVO
A BOLSA ESCOLA FOI UM ATRATIVO PRO LADO DE CÁ
VI MUITO MOLEQUE VOLTAR A ESTUDAR
REPROVAÇÃO DESABAR
NOVENTA E OITO E OS BOCA SUJA TÃO POR AI SUPER AFOITOS
TAPA NAS COSTAS ADESIVOS NOS CARROS
EU NÃO ME AMARRO NESSA IDÉIA INSISTO E ME INVISTO
GOG TRINTA E TRÊS IDADE DE CRISTO
EM CASA TA CALOR TA UM FORNO
EU VOU QUEBRAR PRO ENTORNO
MAS ROGER VESTE UMA ROUPA LEVE NO VITOR NO GUILHERME
DESLIGA LOGO ESSA TV QUE EU já SEI QUE
RIPARAM UMA PA DE BOY NA MICARÊ QUE
QUATRO DIAS DE ORGIA DIVERSÃO SELVAGERIA
LUTO NAS FAMÍLIAS
O RESULTADO TAI PODE CRÊ
E O SISTEMA TENTA ESCONDER
PRA BURGUESIA LUCRO IBOPE
CENTRO TURÍSTICO FORTE
PRA PERIFERIA DIAS EM QUE FOI PREMEDITADA A MORTE
TOCOU MEU CELULAR "ALÔ GOG E AI VELHO ONDE É QUE VOCÊ TA?"
"EM FRENTE AO INGÁ" "A TA BOM VOU DESLIGAR
SE NÃO A CONTA FICA CARA TA LIGADO, MAS CHEGA LOGO
QUE A CARNE já TA QUASE ASSADA E A RAPAZIADA
HUM ANIMADA"
TEM PARADA QUE QUEM CHEGA NA FRENTE RESOLVE
MAIS NA FRENTE UM ACIDENTE ENVOLVENDO UM FUSCA MEIA NOVE
DO OUTRO LADO AGLOMERAÇÃO DO POVO
NÃO SEI UMA VOLVO UMA SCANIA
DEU DEZ MINUTOS TO CHEGANDO COM OS FERIDOS
A LUZIANIA
CHORO DAS CRIANÇAS DESANIMO DOS VELHOS
CORRERIA DOS MÉDICOS DAS ENFERMEIRAS
SAÚDE VERSÃO BRASILEIRA
MAS QUEM TA BEM? QUE TA AQUI? QUEM TA LÁ FORA?
DE QUALQUER FORMA O SISTEMA TE EXPLORA
DEU MEIA HORA TO CHEGANDO NO MEU COMPROMISSO
COINCIDÊNCIA OU NÃO TÃO CURTINHO O MEU NOVO DISCO
RAPAZIADA DO PARQUE SANTA FÉ
VILA GUARÁ, JARDIM LUZÍLIA
JARDIM MARÍLIA. GUAIRA
CRIANÇAS CORRERIA
AGORA FELIZMENTE DE ALEGRIA
COMPLETA O CLIMA
O REFRÃO DE BRASÍLIA PERIFERIA

BRASÍLIA PERIFERIA (BRASÍLIA BRASÍLIA)
BRASÍLIA PERIFERIA (BRASÍLIA A NOSSA PERIFERIA)

MEU OLHOS ENCHEM D'ÁGUA
RELEMBRO AS RECEPÇÕES DE DE GUARULHOS ITAPÊ E UBERABA
EM CORO O PUBLICO LEVANDO O NOME DAS QUEBRADAS
LAGO AZUL CÉU AZUL PACAEMBU CRUZEIRO DO SUL
VAL PEDREGAL
ANTES DESCONHECIDAS HOJE RECONHECIDAS
BATIZARAM UMA NENÊ COM O NOME DA MINHA FILHA LEGAL
PILEIRA CACHOEIRINHA E PIRIRIPAU
A FAVELA DO HAITI É LOGO ALI
SETOR VEREDAS CAUB PARQUE ARAGUARI
FUTURO BOM É O QUE A SENHORA QUER PRO SEU MENINO
SÃO BERNARDO JAÓ PARQUE MARCELINO
PARQUE SÃO JUDAS TADEU
VEM NA MEMÓRIA A PROMESSA AO SANTO QUE SALVOU UM AMIGO MEU
AUTOGRAFO NA AGENDA DE UMA FÃ
SANTA RITA PAQUETÁ ITAPUÃ
DE ONDE A GENTE OLHA A TORRE VILA JOFRE MANDA SEU AVISO
UM SORRISO
ESTRELA DALVA DE UM A DEZ
AS IGREJAS RECRUTAM SEUS FIÉIS
COTIDIANO
SETOR MARAVILHA KENNEDY, SÃO CAETANO
NÃO FAZ UM ANO QUE VÁRIAS QUEBRADAS NASCERAM
E TEIMOSAS CRESCERAM
DESAFIANDO OS RORIZ, OS BRÁS
FAMÍLIAS TRADICIONAIS
PRA MIM JOSÉS E MARIAS VALEM MUITO MAIS
A PLAYBOYZADA SE DESTRÓI NAS DROGAS
NOS PEGAS SETOR NORTE, SETOR SUL MANDU JARDIM VIEGAS
FUMAL NINGUÉM NO POSTO POLICIAL
PARECE IRÔNICO FILA IMENSA
NO POSTO TELEFÔNICO SETOR AEROPORTO
BARROLANDIA SERRINHA DESCOBERTO
ESPERANÇA DE PROGRESSO SATISFAÇÃO POR UM TETO
DONA APARECIDA JÁ DISSE PRO MARIDO
VARIAS VEZES SÓ NO CAIXÃO SAI DOS TRÊS PODERES
SUA MÃE NÃO DEIXA POR NADA
SEU QUARTINHO NO PARQUE EXPLANADA
LÁ ELA CRIA SUAS PLANTAS BENZE AS CRIANÇAS
LEVA A VIDA QUE SEMPRE QUIS
FRANCOL BURACÃO MARAJOARA UMUARAMA DIZ!
VILA ANHANGUERA VILA DIMAS E XIS

BRASÍLIA PERIFERIA (BRASÍLIA BRASÍLIA)
BRASÍLIA PERIFERIA (BRASÍLIA A NOSSA PERIFERIA)

BRAZLÂNDIA TAGUATINGA CEILANDIA
SAMAMBAIA RECANTO BAMBAM CANDANGA
SOBRADINHO PLANALTINA GAMA
SANTA MARIA OCIDENTAL PARQUE DA BARRAGEM
PARANOÁ AREAL
GURARÁ CRUZEIRO SÃO SEBASTIÃO SANTO ANTONIO
MESTRE DARMAS VARJÃO

BRASÍLIA PERIFERIA PARTE DOIS
SATISFAÇÃO EM ESCREVER
VÁRIOS DIAS VARIAS NOITES SÓ NÃO POSSO DIZER
"ESTÁ É A ÚLTIMA CANÇÃO QUE EU FAÇO PRA VOCÊ"

"PODE CRER RAPAZIADA A PERIFERIA É UMA MÃE
QUE DA A LUZ TODOS OS DIAS
E SEUS FILHOS SÃO AS QUEBRADAS
NOSSA FORÇA NOSSO POVO
VALEU PAZ"

GOG

Que As Crianças Cantem livres

Que As Crianças Cantem Livres
O tempo passa e atravessa as avenidas
E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
E o vento forte quebra as telhas e vidraças
E o livro sábio deixa em branco o que não é

Pode não ser essa mulher o que te falta
Pode não ser esse calor o que faz mal
Pode não ser essa gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro que é fatal

Vê como um fogo brando funde um ferro duro
Vê como o asfalto é teu jardim se você crê
Que há sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver

E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer...
Taiguara

À Palo Seco

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Tenho 25 anos de sonho, de sangue
E de América do Sul
Por força deste destino
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Eu quero é que esse canto torto feito faca
Corte a carne de vocês
Belchior